quinta-feira, 24 de março de 2011

De olhos fechados.

Era uma encruzilhada de ruas, estava de noite e a visão era quase em preto e branco, senão adicionada de tom de azul. De um lado, bem na esquina, exatamente no encontro das retas estava eu, no limite entre da calçada. Do outro lado, na esquina a frente, haviam duas meninas. Uma delas possuía o rosto iluminado por uma claridade que emanava de sua própria pele, destoando-a do ambiente. Sua expressão era indefinível, séria e sem qualquer sentimento. Junto com o seu olhar tão vazio seus olhos apenas me encaravam, não me dizendo absolutamente nada. Desconfio do vazio e suponho misteriosidade na profundidade de um lago tão escuro.
A outra menina estava levemente a frente, porém, esta tinha seu rosto com mesmo tom azulado da rua. Ainda que obscurecida, pude enxergar-la perfeitamente. Ela me olhava também, mas ao contrario da primeira, passava mensagens nítidas na sua expressão. Um ar de decepção, uns olhos cansados mas firmes, uma repreensão.
Encarei aquilo tempo o suficiente parar perceber o desconforto que foi encontra-las ali. Baixei a cabeça e me virei de costas. A minha frente agora havia a continuação da rua, escura, que levava a praia. Quase pude ouvir o som das ondas e sentir o cheiro da maresia. Inalei ar fresco da noite e tentei anda adiante, mas meus pés me traíram, se prenderam fixamente no chão não me deixando se quer completar um passo. Senti como picada que aqueles olhos continuaram me observando. Girando no próprio eixo, virei-me para esquerda para olhar a extensão da rua, que primeiramente eu estava de frente. Naquele momento os vários carros passavam velozmente, tanto que só foi possível ver os vultos de suas estruturas e os risco das luzes que os faróis deixavam pra trás.
Uma pausa; outra visão.
Duas meninas caminhando descontraídas pela rua. Em alguma rua daquele bairro, naquele mesmo presente. Duas amigas, conversando sobre coisas que não sei dizer, mas ambas estavam bem. Entretidas entre si, talvez até tivessem passando por mim, só que em um plano paralelo sobreposto ao meu. Era a mesma rua, apenas com as luzes dos postes acesas, que mais pareciam balões que mantinham a luz aprisionada, mostrando apenas sua cor vibrante, deixando o resto sob sombra.
Eu poderia imaginar o momento:Elas vindo na minha direção. Eu busco chamar a atenção de uma delas esticando o braço o máximo que pude. Não sabia se podiam me ver. Por pouco fui ignorada, até que uma delas percebeu, clicou-me num ligeiro olhar que depois voltou ao que estava fazendo.
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Voltei a me virar de frente para aquelas meninas do outro lado da rua. Elas continuavam as mesmas. Observei-as novamente. Da mesma forma continuavam me observando também. Fitei a primeira, que continuou não demonstrando nada, talvez porque realmente não houvesse nada a dizer, logo desisti. A segunda dediquei reforçada atenção, decifrando assim seus sentimentos. Melhor do que da primeira vez, senti a sua presença mais amorosa. Mesmo com a raiva, que não era tão raivosa assim, ela me queria mais perto.
Os carros continuavam passado e brilhando, tornando impossível atravessar mesmo se eu quisesse. Então, sentei em um caixote que estava encostado num poste antigo próximo a mim, cujas luzes estavam apagadas, como o resto daquele lugar. Abraçada ao metal ondulado, preto e frio, fiquei esperando; pelo tempo de atravessar, pelas meninas que andavam uma rua qualquer, ou pela manhã chegar.
Eu queria ser salva, mas a rua estava deserta; ninguém apareceu, nada aconteceu.

sábado, 19 de março de 2011

Mais uma vez eu estava em um lugar desagradável. Pessoas estranhas, conhecidos estranhos. Lentamente, enquanto me virava para ir embora, tive segundos para reparar uma ultima vez naquela situação; definitivamente não era o meu lugar.
Olhei para cima.
Depois de tempo dessa vez foi fácil subir. Um sutil impulso com os pés foi o suficiente para me tirar do chão. Reconhecendo todo o controle que eu possuia naquele momento, depois de tantas vezes sendo puxada e aprisionada pelo solo, eu não hesitei e fui ganhando altitude, cada vez mais alto. Quanto maior a certeza que eu tinha na segurança, uma força crescente me impulsionava adiante, mais alto.
Nada me impediu, nada nem ninguém estava me segurando dessa vez. Nem as amarras invisível me detiveram a ascensão. Agora era e o céu. Novamente.
Ao longe o limite do céu se encontrava com o mar. Estava tudo escuro; a terra, a água, eu mesma mal me enxergava. No horizonte, todas as cores do céu se faziam, mesmo com o sol já posto, os raios transcendiam as barreiras como se a própria luz saísse de dentro do oceano. As nuvens ao longo de toda reta parecia barcos, ou melhor, algodão-doce; barcos de algodão-doce se estendendo e dissolvendo suas redondezas nas extremidades.
Meu olhos eram o controle, e minha mente o comando. Eu pensava: Azul! Amarelo! Laranja...Rosa...Rosado...Quando solicitava, o pintor assentia, como se adicionasse mais tinta a tela, que misturando com a tinha anterior dava origem a uma nova cor.
Eu queria toca-lo, então segui adiante. Apenas pensei e fui, leve e macia, até tudo se desfazer sumindo outra vez. Inclusive eu.

sábado, 12 de março de 2011

Desespero

EXISTE! EXISTE!
Alguém precisa me ler e enxergar que existe!
Você precisa ver que existe,e contar pra todo mundo que existe, mandar tocar no rádio que existe. Assistir na televisão que existe, ler no jornal que existe, sentir na musica que em sua melodia existe também. Naquela flor existe, naquele laço, e nos chocolates, nos morangos, no perfume, no meu espelho e na pele há marca que existe. Porque existe em todo lugar, que existe em toda hora, em toda gente, em mim inteira, na natureza, no por-do-sol, em cada estrela, em todo o universo...EXISTE. Existe para sempre e sempre existiu. Existe até quando ninguém acreditou, até quando você não acreditou, e quando eu não quis acreditar. Existiu.
E nas palavras que ouço, e nos espaços que olho, no meu quarto, na minha vida, existe. Involuntariamente, existe em cada sentimento, até no ódio, na negação, no erro e no feio. Existe porque existe. Porque amarelo existe, porque eu existo, porque existe a vida, até na morte, que é o rastro eterno da existência.
Em cada letra teclada, em cada batida do meu coração, em cada lágrima, em todo silencio. Eu vou gritar que existe, vou fica louca, e fica sã finalmente outra vez; eu sei que existe, e só eu sabendo da existência de algo tão certo não é possível.
Quem sabe o mundo te mostre que exista, quem sabe você ouça que exista, quem sabe você acredite que exista, mais um vez.